sábado, 12 de janeiro de 2013

O fascínio por personagens imaginários


----------------------------------------------------------Lady Kamnuminas

Se você, caro leitor ou leitora já foi atormentado por declarar ou mesmo sentir um amor por ídolos irreais, não se aflija. As paixões por personagens virtuais são mais comuns e normais do que você pode imaginar, e praticamente todo mundo, homem ou mulher já tiveram uma "queda" por um personagem imaginário.

Os personagens são criados para serem atraentes, tudo neles é planejado e moldado anteriormente por seus autores que produzem criaturas de grande beleza, coragem, determinação, poder e capacidade de fazer frente a qualquer obstáculo. Antes de tudo o personagem é uma ideia, uma idealização, não é somente o físico que nos fascina, mas também a personalidade com a qual podemos nos identificar.

John Byrne, desenhista e roteirista de histórias em quadrinho certa vez declarou-se apaixonado pela Mulher-Hulk. Somos humanos e uma de nossas capacidades é a de sentir afeto por qualquer coisa, seja ela existente ou imaginária.

Amer cita Wolverine como sendo uma grande paixão platônica para muitas mulheres. “Wolverine e não Hugh Jackman” acrescenta ainda. O Wolverine dos quadrinhos é baixinho, peludo, feio, carrancudo, mal humorado, beberrão, boca suja e provavelmente fedorento, considerando o tanto de álcool que ele ingere e as pocilgas que freqüenta. A despeito de tudo isso muitas garotas são apaixonadas por ele. Isso poderia demonstrar que muitas mulheres sonham em namorar caras que parecem gorilas depilados, mas não é exatamente este o motivo. 

As mulheres são criaturas inseguras por natureza. Todas, sem exceção de uma forma ou de outra; porém, se elas estão com um cara seguro tudo perde a importância, porque elas se sentirão bem com elas mesmas. E Wolverine, é um dos caras mais seguros de si dos quadrinhos. Com apenas 1,60 metros de altura já enfrentou seres que fariam homens muito maiores tremerem de medo.

Wolverine é um personagem durão de verdade, e personagens durões tem coração mole, eles não têm a necessidade de provar nada a ninguém, não se importam com a opinião dos outros e não se gabam de serem durões, eles simplesmente são. Sendo assim não se importam em serem gentis com os que precisam ou tampouco tem vergonha de demonstrar que são sensíveis quando querem.

Muitos personagens preenchem aquilo que consideramos ideal em um companheiro ou companheira e enquanto não encontramos alguém com tais características (ou até mesmo depois de encontrarmos, hehe!) é normal nos sentirmos afetadas emocionalmente por um ser que existe apenas em desenhos ou telas de cinema.

Ainda no texto Amer faz uma comparação e diz ser menos nocivo gostar de um personagem inexistente do que gostar de um ator, atriz, cantor e etc... que seriamos levados a procurar fisicamente e muitas vezes nos iludirmos pela pessoa não ser na realidade aquilo que esperávamos em nossa imaginação.
Adaptação do Texto Original

Uma referência na área de educação, Edgar Morin1 autor do livro “Os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro”, escrito a pedido da Unesco em 1999; analisou sobre o mito e sedução no Cinema explorando o fascínio que os atores e seus personagens exercem sobre seu público.

Morin explica que o Cinema é um difusor de mitologias, onde ao ouvir e assistir uma história emprestamos algumas qualidades de nossos ídolos. Ele percebe que ao redor das estrelas cinematográficas se instala um culto, praticamente uma religião.  
Muitos fãs fazem de seus ídolos a razão de seu viver, chegando até mesmo a interferir em suas vidas.

Existem também os fãs que não conseguem separar o ator do personagem, situação que levou o ator Leonard Nimoy a publicar um livro em 1975 com o título: “Eu não sou Spock”.

Segundo o pesquisador o fã se identifica com seu ídolo e projeta neles seus desejos, o que gostaria de ser, ter ou fazer. O personagem é sempre um referencial, se encontra acima dos meros mortais, possuem o dom da beleza e perfeição. Entretanto para um personagem ser idolatrado, ser perfeito não basta, ele precisa ter também um pouco de humanidade para que possamos nos identificar com sua personalidade.

Como um exemplo do parágrafo acima é citado a figura do Super Homem, herói de poderes olímpicos cujo alter ego é Clark Kent, um repórter tímido e fraco que sempre é passado para trás. Nós acabamos por nos projetarmos no Super Homem enquanto nos identificamos com Clark Kent, dois lados da mesma moeda.
Adaptação do Texto Original

Justamente pelo personagem ser uma idealização ele possui inúmeras vantagens sobre os humanos, vantagens estas que incluem até mesmo a capacidade de voar; sonho de muitas pessoas ao redor do mundo. De certa forma as paixões platônicas "saudáveis" são melhores do que as reais porque sabemos o que esperar de nossos ídolos, conhecemos cada aspecto de suas vidas, seus pontos fortes e fracos, personagens não morrem, não envelhecem, são capazes de fazer coisas extraordinárias, possuem uma vida agitada, são decididos, práticos, inteligentes e sempre se dão bem não importa o quanto a situação ao seu redor pareça desesperadora. Por outro lado, nós humanos somos imprevisíveis, fracos, sujeitos a falhas, medos, traumas e vidas monótonas.

As fãs mais exaltadas são chamadas de Fangirl, termo que denomina as pessoas que são não somente fãs, mas sim apaixonadas por determinado personagem, ator ou tema, e que o defendem fortemente a despeito da opinião alheia. A fangirl faz de algo não real seu objeto de devoção, muitas vezes substituindo-o rapidamente por outros ou não raro colecionando amores imaginários. Existe também a denominação Fanboy para descrever aos homens, pois as mulheres não são as únicas que caem em amores platônicos.

Diversas Fangirls e Fanboys interagem com seus personagens favoritos através das Fanfics, produzindo textos pessoais para que outros fãs possam ler e compartilhar de suas ideias sobre determinado protagonista. A palavra Fanfic nasceu da abreviação do termo inglês "fan fiction" que significa, ao pé da letra, "fãs de ficção", trata-se de estórias2 em prosa3 criadas por fãs sobre seus personagens e que não pertencem ao enredo original, algumas vezes estas estórias modificam completamente o contexto em que o personagem se encontra levando-o para outras épocas ou narrando-o experimentando diferentes vivencias.

As Fanfics podem ser sobre personagens de animês, mangás, livros, filmes, seriados, história em quadrinhos ou novelas, sendo que os gêneros destas estórias são bastante diversificados, e vão desde terror até dramas e comédias, entretanto o gênero mais comum é o romance onde não é raro a própria autora assumir um papel na trama para se relacionar (eroticamente ou não) com o fruto de sua admiração.
Todas as Fanfics são amadoras e nenhum dinheiro é ganho as escrevendo, sendo apenas um meio divertido de interagir com os personagens ou enredo no qual se encontram.

A paixão por personagens pode até mesmo estimular o desenvolvimento social de crianças autistas, assista a reportagem:




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1 - Edgar Morin, nascido em Paris no ano de 1921, é sociólogo, filósofo, pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), formado em Direito, História e Geografia, autor de mais de trinta livros, realizou estudos sobre Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Considerado um dos mais importantes pensadores sobre a Complexidade e também um dos mais influentes do século XX e XXI. Fonte
- Estória é a narrativa criada, inventada ou sugerida, sendo uma obra de ficção; ao contrário de história que é a narrativa dos fatos ocorridos na vida real, sendo uma obra não ficcional.
3 - Prosa é qualquer expressão linguística, escrita ou falada, que não seja poesia. O mesmo que conversa informal.

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